Os serviços de acolhimento institucional são, por definição, espaços de cuidado. Cuidam de quem sofreu rupturas, violências e perdas. Cuidam de histórias interrompidas. Mas… quem cuida de quem cuida?
A exaustão das equipes nos acolhimentos não é um episódio isolado. É um fenômeno cada vez mais presente e silencioso — porque, muitas vezes, quando o cansaço é extremo, já não há nem forças para pedir ajuda.
Em um país onde o direito à convivência familiar e comunitária é assegurado por lei, é doloroso constatar como o serviço de acolhimento institucional — que deveria ser um espaço provisório de cuidado e reconstrução — é muitas vezes tratado como um ponto cego da rede de proteção.
Quem atua na ponta conhece bem esse cenário: quando a rede falha ou se omite, é sobre o acolhimento que recaem todas as demandas. Situações que exigem cuidado especializado em saúde mental, enfrentamento à violência, apoio sociofamiliar ou intervenção intensiva com adolescentes em conflito com a lei são, frequentemente, transferidas ao serviço de acolhimento como se tudo pudesse ser resolvido ali, por uma equipe que já opera no limite.
Mas não pode. E nem deve.
O Luto da Criança Adotada Não É Falta de Amor, É Parte do Recomeço
É comum que famílias por adoção se surpreendam com o comportamento de tristeza, resistência ou até de indiferença da criança acolhida, mesmo após a chegada em um novo lar cheio de amor e expectativas. Às vezes, ouvimos frases como: “Ela tem um quarto só dela agora”, “Nunca faltou carinho” ou “Ela já foi muito bem recebida, mas não retribui”.
Essas reações, no entanto, não indicam ingratidão. Indicam luto.
Quando falamos de crianças e adolescentes em acolhimento ou em processo de adoção, é comum encontrar histórias atravessadas por perdas, rupturas e violações de direitos. Essas vivências impactam profundamente o desenvolvimento emocional e, frequentemente, emergem em forma de comportamentos desafiadores — entre eles, a raiva.
Mas será que sentir raiva é um problema?
Não. Sentir raiva é humano.
Kelly Caraça - . Todos os direitos reservados.
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